segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Medo de Voar

Depois de uma tempestade vem sempre a calmaria -  pelo menos é o que dizem...

Grafite sobre Papel Canson


Veio o ar
Vento
Ventania
Vendaval

Veio a água
Chuvisco
Chuva 
Temporal

Veio a terra
Queda
Buraco
Raiz

Veio o fogo
Calor
Queimaduras
Incêndio
Cinzas



A cinza cobriu a terra
A chuva encharcou a cinza
A terra esfriou

O vento espalhou tudo
O vendaval arrancou as raízes
O ar se agitou

Depois de tudo a calmaria...

Sobrou muita vida
Sobrou um mundo de renovação
Deu-se a liberação
A libertação

A verdadeira calmaria!

E agora?

Rastejar?
Sentar?
Levantar?
Andar?

Depois do cansaço, é preciso voar!
Deixar a terra
Secar os pés
E planar no ar...

Mas eu não sei voar!

  





domingo, 12 de abril de 2015

Cores de Borboleta

Eu, vampira?

Poderia ter escrito esse poema, mas não escrevi
Nele me vejo, me identifico, me observo...
Será que sou Vampira?
Também era moreninha,
Uma serva feliz do Rei‐Sol
Também me energizava com essa força mágica
Luz que nos faz brilhar, douradas
Também vivia, como boa carioca, a vida de Morena Tropicana

Até que o sol passou a ser um monstro em chamas
Uma perigosa bola de fogo
Queimava, cegava, manchava
Reativando a dor que precisava adormecer

Então, tornei‐me branquinha ("cor‐de‐maizena")
Pálida, transparente, lívida
Pele desbotada, roxos brotando, veias bem verdinhas...
Não sou mais dourada
Sou quase um arco‐íris de três ou quatro cores
Reluzindo diante dos passantes ensolarados

Poderia ter descrito essa transformação
Verso ou prosa
Desenho ou rabisco
Dia a dia
Passo a passo
Mas não escrevi
Não desenhei
Não fiz

Hoje me pergunto
Será que sou vampira?
Amo a lua, seu brilho suave
Me encanto com as luzes distantes das estrelas
Me inspiro e cresço a cada noite
De morena ensolarada a branquinha amante da lua

A fragilidade que me foi presenteada merece o luar
A força do dia ensolarado retrai, aprisiona
Preciso me proteger do meu velho e amado astro‐rei
Apreciar sua beleza apenas quando já está se despedindo
Vê‐lo sumir no mar, na linha do horizonte

Sim, seria um belo poema
Rico em deliciosas descrições
Teria sido um escrito memorável
Coroando minha trajetória de curvas sinuosas, becos sem saída 
Mas, não.
Não escrevi esse poema.


Hoje sei que não sou uma vampira
Nem de sangue, nem de energia
Hoje sei que a energia vital que circula no meu corpo
É maior e mais vivida que qualquer raio solar

Demorei para perceber isso
Mas o espelho me diz
Não sou invisível
Não sou vampira
Sou mulher
Sou viva
Vida
Vida que reconquistei
Dia após dia
Mancha após mancha
Cor a cor
Com muitas lágrimas
E o dobro de sorrisos de gratidão!
Hoje sei!

Já posso passear junto ao meu amigo perigoso
Já posso trocar energias com esse dia ensolarado
Mas, apeguei‐me à lua
Tão suave
Brilhante
Distante do sol
E ao mesmo tempo
Por ele iluminada
Uma deusa prateada
Ora pálida
Branca
Escondida
Mas sempre ali
À distância segura

Hoje não escreveria mais como vampira
Até posso passear ao sol!
Será?
Com bloqueador solar
Com óculos escuros
Por pouco tempo
Até 10h da manhã
Ou depois das 16h
Um pouco vestida
Boné ou chapéu

Quase um ritual para saudar o Rei...
Mas reis merecem toda essa pompa, naturalmente...
Nada como um bom ritual para nos aproximar do Alto!
Hoje sei que não sou vampira
Hoje sei que não escreveria esse poema
Só por hoje
Eu sei...

Referência ao texto “Eu, vampiro” do Blog A Menina e o Lúpus
http://porcelanamenina.blogspot.com.br/2014/11/eu-vampiro.html



quarta-feira, 25 de março de 2015

Lágrimas

No início, tudo era colorido
Arco-íris de alegrias e descobertas
O mundo se curvava a tanta disposição
Disposição de realizar, transformar
Era a liberdade em forma de ação.

Depois veio o trabalho
Árduo, incansável, mas muito cansativo.
Era de execução de projetos
Fase de fazer
Tempo de concretizar os ideais.
Ação, atitude e plenitude...

De tão pleno, o concreto se concretizou demais
Se enrijeceu, solidificou
E o idealizado nem se parecia com o ideal...
Perdera o brilho. o encanto
Deixava o mundo fantástico dos sonhos
Para habitar o mundo sem-sal da rotina.

Alessa
Sem sal, sem açúcar, sem tempero
Sem frescor, sem sabor
Sem nada.

Hora de desconstruir
Momento de dissecar
Pausa para compreender
O que saiu errado, afinal...

Sim, porque ao cumprir todas as metas,
Alcançar todos os objetivos
Realizar todos os sonhos
O que sobrou?

Então, fez-se a luz!
Tudo ficou claro como água
E veio a resposta:
O que sobrou?
Nada.

As cores ficaram no caminho
E olha que eram as mais fantásticas...
De tão fantásticas, não se encaixaram na realidade.
O concreto é cinza
Quando muito, fica preto.

E o preto o que mais é senão a ausência de cor?

O colorido ficou opaco, monocromático.
Marcas de cores ainda podem ser vistas pelo caminho
De longe
Porque a fantasia morre quando tenta se fazer real
E vira lágrima.

Depois de brotar, uma lágrima nunca volta.
Não há retorno.
Só a lágrima.



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Ode ao Escritor



Escrever é um ócio muito trabalhoso. (Goethe)
Rabisco: Alessa


Aos grandes escritores, o meu respeito!
Aos ociosos de plantão, a minha mais profunda admiração!
E àqueles que reúnem as duas modalidades em um só corpo e uma só mente, meus aplausos! Minha alma canta...
O escritor é, antes de tudo, um leitor ávido. Ávido por ler imagens, sinais e acontecimentos. Ávido por captar sentimentos decodificados em palavras.
Tudo que há ao redor do escritor é lido, ouvido, sentido.
Sons transformam-se em letras, luzes formam imagens, cheiros colorem a imaginação do leitor/escritor/artista.
Ouvir o mundo, ler as pessoas, sentir as palavras... Esse é o ofício do escritor.
Tudo que é absorvido nessa "esponja de ideias" fica armazenado e catalogado no pensamento e, sobretudo na alma, do exímio pintor de letras e desenhista de emoções, para depois ser manufaturado e devolvido ao universo em prosa ou verso.
São descrições, poemas, crônicas, opiniões...
São letras.
São letras, vírgulas e pontos.
É a alma e ponto final.




sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Alma Lavada

A chuva cai lá fora e - pela primeira vez, eu acho - minha alma sorri agradecida.


Sou um ser solar, que se sente feliz com céu azul e sol brilhando.
Sou um ser notívago, que ama as noites em que o brilho do luar quase ofusca as estrelas.
Sou carioca e não gosto de dias nublados.
Quando as incontáveis cores do dia ou da noite são substituídas por aquele cinza opaco, sinto uma tristeza quase orgânica.
Parece que toda beleza é escondida pela palidez das nuvens, pelo peso de um céu carregado.

Hoje foi diferente.
Hoje senti com um prazer quase físico um dos melhores cheiros do universo sem me importar com a falta de brilho do dia e da noite.
Nem lembrava desse mágico perfume da natureza… O cheiro da chuva, o odor inconfundível de terra molhada em plena avenida asfaltada.
Respirei fundo, tentando me inundar dessa delicia renovadora, dessa sensação de vida pulsante, do perfume da terra.
Fechei os olhos e senti, extasiada, gotas geladas caírem delicadamente sobre a minha alma.
Ao contrário do que esperava, alegrei meu coração. 
Instantaneamente me vi abençoada por essa mágica surpreendente que é a vida!
Hoje a chuva não era feita de lágrimas.
Hoje ela veio lavar minha alma, meu corpo, meu coração.
Hoje lembrei que a chuva é uma das maravilhas do ciclo da vida!
O cheiro fantástico de chuva, o som inspirador das águas em suave movimento, a transparência das gotas tomando conta de tudo sem interferir na forma, o frescor dessa maravilha invadindo a terra.
Hoje a chuva me trouxe leveza, alívio.
Só por hoje. “Deixa chover, deixa a chuva molhar”.
Emocionada, aguardo que o sol volte a brilhar.

domingo, 18 de janeiro de 2015

E a vida continua

Aprendi que a escrita (a boa escrita, claro) é revisada, analisada, reestruturada, corrigida, maturada.
Escrever uma vez, Ler, reler. Ler novamente e reler mais um pouco.
Enxugar o texto. Eliminar pontos confusos e inúteis. Cortar os excessos. Melhorar o ponto central. Repensar. Ler. Reler. Reescrever.
Um exercício fantástico.
Uma fórmula a ser seguida.
Jamais dar por encerrado o texto no mesmo momento.
Controlar impulsos.
Ter outros olhos para ler o texto - provavelmente de forma diversa.
Palmas!
Técnica de quem sabe o que faz.

Então, não crio. Não escrevo. Apenas transcrevo meus pensamentos. Muitas vezes as mãos são bem mais rápidas do que o meu raciocínio. Isso me faz tomar conhecimento do texto não com a escrita e sua elaboração, mas sim com a leitura das minhas letras.
No fundo, sejamos honestos, não crio, apenas psicografo.
Não sei a autoria. Não sei se há "um alguém" a me ditar o texto, a me soprar os temas, a me movimentar os dedos.
Não sei se a autoria pode ser atribuída a meu subconsciente, a meu EU Superior - ou Inferior, conforme o caso - ou a qualquer espaço desconhecido dessa minha mente misteriosa.

Assino porque meus dedos eternizam as letras no papel.
Escrevo porque preciso viver e deixar viver.
Agora, as palavras já têm vida e podem seguir seu caminho.
Fico leve, satisfeita e aliviada.
E a vida continua.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Apenas voando

Novo dia, novo ano, nova vida...
Penso em enveredar pelo mundo da escrita, da arte de arrumar as palavras, aproveitar as entonações, reforçar as digressões sobre temas diretos e também - por que não? - sobre o nada.

Escrever - seja em verso ou prosa - é trazer a musicalidade para o papel, dar vida às letrinhas. Dar cor a parágrafos e sabor a ideias.
Vejo como uma forma bem palpável de arte.
Como um bordado milimetricamente aplicado, tecido e arrematado.
Como um mosaico de imagens calculadamente encaixadas para formar a mensagem da beleza.
Letras têm cor, têm sabor, têm perfume. Podem ter sons, tons.
Têm forma, têm personalidade.
E, uma vez dispostas num conjunto, agrupadas e selecionadas, elas passam a ter VIDA.
Vida que o escritor fez brotar no papel.
Vida que o leitor fez sair do campo do concreto para o seu mundo intelectual e emocional.
Vida que se multiplica no imaginário de cada interpretação.
E é isso que quero criar, produzir, reproduzir.
VIDA.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Vidas de Borboleta

Me vejo como a borboleta.
Por tempos escondida no casulo, vivendo calma, em uma inatingível proteção.
De repente, ou melhor, no momento necessário, desmancha-se o casulo e surge a luz.
A luz da liberdade.
As cores das possibilidades, os perfumes da novas circunstâncias.
O Sol.
Fonte de energia e perigo potencial.
Sinto-me leve, enxergando pouco a pouco um novo mundo. Mais simples, mais brilhante, mais direto.
Um caminho pronto a ser criado e percorrido.
Um universo de escolhas incríveis e suas consequências (nem sempre) maravilhosas.
Me vejo bela, renascida, com cores inacreditáveis e formas sutilmente bem definidas.
Mas sou frágil.
Posso voar por onde quiser ou por onde o vento me levar.
Posso dançar no meio das belezas nunca antes observadas.
Mas sou frágil.
Forte para me reconstruir no casulo, na redoma.
Brava para irromper a proteção e ganhar a vida.
Mas, frágil para a vida.
Uma rajada de vento mais forte pode me desviar do rumo.
A aparente - e nem sempre real - beleza pode me atrair para recantos perigosos,
As ilusões podem se criar bem diante dos meus olhos e, ainda assim, me inebriar, atrair e enfeitiçar.
Aprendizado se acumula, fortalece, purifica e dignifica.
Mas, como Borboleta, deixei de lado a bagagem pesada do casulo - que muito bem me serviu, ajudou e salvou - para iniciar um ciclo novo de leveza, transparência e suavidade.
Somos poucas Borboletas diante de tanta força bruta, de tanta esperteza e aspereza..
Como Borboleta, deixo minha vida passada de lagarta numa memória sutil que vai se esvaindo com o tempo.
E o Tempo é o Senhor das Borboletas.
Gentil e cruel. Enfático e fugaz.
Como Borboleta só tenho a leveza e o tempo.
Muita leveza e pouquíssimo tempo.